A Geração que Pula Cutscenes: Falta de Tempo ou de Interesse?
Você já reparou como cada vez mais pessoas simplesmente… pulam cutscenes? Cenas que antes eram o “prêmio” da jogatina — momentos épicos, emocionantes, cinematográficos — hoje muitas vezes são ignoradas com um toque no botão de skip. E talvez você mesmo já tenha feito isso recentemente. Mas o que mudou?
Alexandre Souza Borges
11/17/20253 min read


A Pressa da Vida Moderna: jogar virou encaixe na rotina
Será que o problema é falta de tempo, falta de paciência, mudança na nossa relação com o entretenimento… ou a indústria também tem sua parcela de culpa?
Vamos conversar sobre isso.
A geração de jogadores de hoje não é mais formada apenas por adolescentes com tardes inteiras livres.
Muitos de nós crescemos — e junto veio trabalho, estudos, responsabilidades, burnout, ansiedade e a sensação permanente de estar atrasado para algo.
Nessa rotina acelerada, até o lazer entra na fila.
E quando finalmente temos 40 minutos para jogar, queremos jogar. Não queremos assistir uma cena de 5 minutos antes de começar a missão.
Isso não é desinteresse. É disputa por atenção.
E o tempo virou nosso recurso mais escasso.
A verdade é dura, mas real:
a vida moderna nos condicionou a buscar recompensas rápidas.
Isso impacta tudo — de redes sociais a jogos.
Cutscenes não são o problema. Mas muitas estão mal escritas.
Sim, precisamos admitir isso também.
Algumas cutscenes são incríveis, marcantes, dignas de cinema…
Mas outras?
Longas demais
Expositivas demais
Mal dirigidas
Com diálogos rasos
Com ritmo comprometido
Ou simplesmente entediantes
Não é falta de respeito do jogador.
É falta de qualidade.
A indústria cresceu tanto que cutscenes deixaram de ser momentos especiais e passaram a ser “tutoriais disfarçados”, blocos de explicação, preenchimento de roteiro.
Quando o jogador pula, não é rebeldia — é feedback.
A queda da tolerância: o efeito TikTok no cérebro
Ainda que o termo “efeito TikTok” seja popularizado, existe base psicológica para isso:
a exposição constante a conteúdo curto reduz nossa tolerância para estímulos longos e aumenta nossa busca por gratificação imediata.
Menos paciência
Menos tempo de atenção
Mais necessidade de estímulos por minuto
Isso não significa que estamos “estragados”.
Significa apenas que o cérebro se adapta ao ambiente que oferecemos a ele.
E esse ambiente está cada vez mais acelerado.
Jogos como válvula de escape rápida
Muitos jogadores não querem história.
Não naquele momento.
Eles querem:
✔ desligar a mente
✔ sentir progresso rápido
✔ relaxar
✔ completar missões
✔ ganhar recompensas
✔ desestressar
Jogos são, para muitos, uma terapia silenciosa.
E às vezes terapia não combina com cenas longas interrompendo o fluxo.
Existe espaço para narrativa profunda?
Claro.
Mas nem sempre é o que o jogador precisa.
Será que é falta de interesse? Às vezes… é.
E esse ponto precisa ser dito:
nem todo mundo joga por história.
Tem gente que joga por:
Mecânica
Progressão
Competitividade
Colecionismo
Socialização
Moda
Gameplay puro
Coop com amigos
E está tudo bem.
A geração que pula cutscenes não está “errada”.
Está apenas jogando do jeito que faz sentido para ela.
A indústria também mudou — e nem sempre para melhor
Jogos lançam atualizações e eventos em ritmo frenético
Experiências são fragmentadas
A monetização pressiona engajamento
Narrativas se estendem para preencher conteúdo
A quantidade de jogos disponíveis gera FOMO constante
O design moderno incentiva a repetição, não a contemplação
Quando tudo tenta competir pela sua atenção… você pula o que parece menos importante.
E muitas cutscenes se tornaram exatamente isso: menos importantes.
Como encontrar o equilíbrio: o jogador não precisa escolher um lado
Se você sente culpa por pular cutscenes — respire.
Isso não faz de você um “jogador errado”.
Mas há maneiras de entender melhor sua relação com os jogos:
✔ Jogue sem pressa quando quiser história
Reserve aquele jogo narrativo para um momento calmo.
✔ Seja honesto com você mesmo
Está pulando porque não tem tempo ou porque está emocionalmente cansado?
✔ Varie suas experiências
Intercale jogos narrativos com jogos de ação ou multiplayer.
✔ Não force narrativa
Se você não está conectado, está tudo bem pular.
✔ E lembre-se: diversão é o que importa
E diversão é pessoal.
No fim das contas, o que isso diz sobre a nossa geração?
Diz que estamos cansados.
Diz que estamos sobrecarregados.
Diz que queremos aproveitar o pouco tempo que temos.
Mas diz também que amamos jogos — mesmo que nem sempre do jeito que os desenvolvedores idealizam.
A geração que pula cutscenes não é desinteressada.
É a geração que tenta encaixar o videogame na vida real.
E esse equilíbrio é difícil.
Se os estúdios quiserem nossa atenção, vão ter que merecê-la novamente.
Conclusão
Pular cutscenes não significa que não ligamos para histórias.
Significa que:
nosso tempo é curto,
nosso cérebro está sobrecarregado,
nossas preferências mudaram,
e os jogos também mudaram.
A conversa que precisamos ter não é sobre “culpa”, mas sobre como consumimos videogames — e como queremos consumi-los daqui pra frente.
Talvez a pergunta real não seja por que estamos pulando cutscenes, mas sim:
O que os jogos precisam fazer para que a gente não queira mais pular?
