A Indústria dos Games Nunca Mais Será Como Antes

Sabe quando você pensa nos tempos em que os jogos pareciam mais... autênticos? Quando um estúdio médio podia arriscar uma ideia maluca e, de repente, ela se tornava um clássico? Pois é. Essa era acabou — e o mais difícil de aceitar é entender por que ela não vai voltar.

Alexandre Souza Borges

11/6/20254 min read

Por que as grandes empresas não vão voltar a arriscar

A verdade é dura, mas direta: elas não vão.

Vivemos um momento em que o que realmente importa para as grandes empresas não é a diversão, nem a criatividade, mas a linha do gráfico que sobe — o lucro.

E isso mudou completamente a forma como os jogos são feitos, financiados e até pensados.

Hoje, cada novo jogo AAA é um investimento milionário e um risco enorme. O foco não é mais “fazer algo incrível”, e sim “fazer algo que venda muito”.

Os investidores querem segurança, não originalidade. Querem outra tendência que estoure, não um experimento que possa falhar.

  • Os custos de desenvolvimento explodiram. Jogos que antes levavam dois anos agora podem demorar cinco ou mais.

  • Cada projeto envolve centenas de pessoas, licenças, engines caras e campanhas de marketing gigantes.

  • E, mesmo com todo esse esforço, o retorno pode ser menor do que o esperado.

Pra você ter uma ideia, só na Steam, foram lançados mais de 14 mil jogos em 2023 e quase 19 mil em 2024 .

O mercado está saturado — e, nesse mar de lançamentos, o medo de arriscar é cada vez maior.

O ciclo das tendências e o medo de inovar

Hoje, basta um jogo fazer sucesso para que dezenas de estúdios tentem copiar a fórmula.

Lembra quando todo mundo quis fazer o seu próprio “battle royale”? Ou quando os mundos abertos viraram regra?

Esse comportamento não é coincidência — é reflexo da lógica dos investidores: se algo deu certo uma vez, repita até não dar mais.

O problema é que isso sufoca a criatividade.

Enquanto as grandes empresas correm atrás do próximo sucesso garantido, a diversidade de experiências vai diminuindo.

E, como apontou o Financial Times, vivemos a era da “superabundância dos games”, onde há mais jogos do que tempo (ou energia) pra jogá-los.

Onde a criatividade ainda resiste

Mas calma, nem tudo está perdido.

A criatividade não morreu — ela só mudou de endereço.

Enquanto as grandes corporações jogam seguro, os indies e estúdios médios continuam criando coisas incríveis.

A Devolver Digital, por exemplo, segue lançando títulos ousados que lembram os velhos tempos, onde o importante era ter uma boa ideia, não um orçamento de Hollywood.

Mesmo assim, o cenário é injusto.

Até nomes lendários, como John Romero (criador de Doom), têm dificuldade para financiar novos projetos no ambiente atual.

Criar algo original hoje exige coragem, paciência e — principalmente — um público disposto a apoiar.

O que precisaria mudar para virar esse jogo?

Sinceramente? Duas coisas grandes teriam que acontecer:

  1. A bolha teria que estourar.

    Quando o custo para produzir AAA’s se tornar insustentável, e o retorno deixar de compensar, talvez o sistema precise se reinventar.

  2. Um novo movimento cultural teria que surgir.

    Assim como o punk apareceu pra chacoalhar a música nos anos 70, os games precisam de um novo “grito de liberdade” que fuja do padrão corporativo e traga de volta a rebeldia criativa.

Mas... sejamos realistas: as grandes empresas não vão abrir mão de lucros bilionários só por amor à arte.

Essa mudança, se vier, vai vir de baixo pra cima — de nós, dos jogadores.

O que você pode fazer? Votar com o bolso

Se você sente falta daquela época de ouro, saiba que você ainda pode fazer a diferença.

Cada compra, cada review, cada recomendação — tudo isso ajuda a moldar o mercado.

Aqui vai o que realmente importa:

  • Compre e apoie jogos de estúdios menores. São eles que ainda ousam.

  • Saia do algoritmo. Busque críticas, leia jornalistas independentes, siga criadores de conteúdo que falam com paixão, não só com hype.

  • Jogue coisas diferentes. Às vezes o jogo mais marcante do ano custa 50 reais e foi feito por cinco pessoas.

  • Compartilhe o que você descobre. O boca a boca ainda é uma das forças mais poderosas da cultura gamer.

Nem tudo é perda — só está diferente

Por mais que seja fácil sentir saudade, há um lado positivo nessa nova era.

Nunca tivemos tantos jogos incríveis, de tantos estilos, países e perspectivas diferentes.

A saturação também trouxe diversidade — basta saber onde procurar.

A diferença é que agora a curadoria está nas nossas mãos.

As corporações não vão escolher por nós o que é “criativo” ou “digno de atenção”.

Somos nós que precisamos fazer isso.

Conclusão: ser curador da própria experiência

O passado, com seus jogos médios e ousados, não vai voltar.

O sistema atual — movido por gráficos, investidores e tendências — não tem espaço pra tanto risco.

Mas isso não significa que a chama da criatividade morreu.

Se queremos um mercado mais saudável, mais humano e mais criativo, precisamos fazer nossa parte.

Apoiar quem ainda ousa. Falar sobre jogos que nos tocam. Jogar com propósito, não só por hábito.

“Vivemos em um sistema onde a única linha que importa é a que sobe.

Mas talvez, se olharmos para o lado e não só para cima, ainda encontremos caminhos novos.

Referências