O Ciclo de Insatisfação no Mundo Gamer Moderno

Já sentiu que terminou um jogo e, em vez de satisfação, ficou vazio e pensando no próximo título? Esse é um sintoma comum do que chamo de Ciclo de Insatisfação Gamer.

Alexandre Souza Borges

11/3/20253 min read

Por que os jogadores nunca estão satisfeitos?

O excesso de opções

No mundo moderno, onde temos milhares de opções e acesso instantâneo a lançamentos, parece que o prazer de jogar está se perdendo. Muitos jogadores finalizam um game em apenas alguns dias e já começam a sonhar com uma DLC ou continuação, sem sequer aproveitar a experiência que acabou de ser vivida.

Com serviços como Game Pass, PlayStation Plus e descontos frequentes, os jogadores acumulam títulos sem mergulhar de fato em cada um. Muitos compram por impulso, não por desejo real de jogar. Isso gera a sensação de obrigação, tirando o prazer da experiência.

Um experimento clássico, chamado

When Choice is Demotivating: Can One Desire Too Much of a Good Thing?,

mostrou que muitas opções atrapalham a tomada de decisão. E é exatamente isso que acontece quando abrimos a loja do console ou PC: uma enxurrada de jogos, gêneros e estúdios que acabam gerando cansaço mental em vez de diversão.

Relação entre insatisfação e problemas mentais

Vício, ansiedade e depressão

Jogadores que passam várias horas por dia nos videogames apresentam maior propensão à ansiedade, depressão e baixa autoestima.

O estudo The Association Between Video Gaming and Psychological Functioning mostrou que o uso excessivo de videogames está ligado a traços como baixa autoeficácia, ansiedade, agressividade e até sintomas clínicos de depressão.

Solidão, insatisfação social e fuga da realidade

A insatisfação em relacionamentos reais também pode levar à busca de conexões dentro dos jogos.

A pesquisa The Relationship Between Digital Game Addiction and Loneliness and Social Dissatisfaction in Adolescents confirmou essa relação, mostrando como solidão e dependência de games caminham lado a lado.

O ciclo da insatisfação

  1. Jogo anunciado → espera e hype

    A expectativa se torna mais importante do que aproveitar o presente.

  2. Jogo lançado → conclusão rápida

    Em apenas alguns dias já está zerado e platinado. Logo vem a busca por algo novo.

  3. Acúmulo de jogos sem aprofundamento

    Com tantas opções, dificilmente há imersão verdadeira.

  4. Jogar como obrigação

    O jogo vira cumprir tarefas, colecionar pontos e “gamificar” a vida — transformando diversão em um segundo trabalho.

Esse ciclo nos faz jogar por jogar, sem vivenciar a experiência de verdade.

Dados e evidências que reforçam o problema

  • Um estudo com estudantes de medicina mostrou que cerca de 38,8% apresentavam comportamento anormal relacionado a jogos, ligado a pior qualidade de sono (fonte).

  • Uma pesquisa internacional com 1.400 adultos encontrou relação direta entre loot boxes, ansiedade, estresse, impulsividade e tendência ao vício (fonte).

  • Outro levantamento revelou que 4,5% dos gamers são altamente dependentes, 5,3% têm comportamento problemático e 1,2% são realmente viciados — todos apresentavam maior sofrimento emocional e solidão (fonte).

Por que isso importa?

  • O prazer de jogar desaparece quando vira apenas uma lista de tarefas.

  • Jogos, criados para entreter, acabam trazendo frustração, ansiedade e estresse.

  • A pressão por “estar sempre consumindo algo novo” transforma diversão em obrigação.

O que fazer então?

Se você também sente que perdeu parte do prazer em jogar, aqui vão algumas técnicas simples que têm me ajudado e podem te ajudar também:

  1. Corte as opções

    Quando temos muitas escolhas, nosso cérebro trava. Limite-se a 3 a 5 jogos instalados no console ou PC. Isso reduz a ansiedade e aumenta a imersão.

  2. Categorize antes de escolher

    Quer jogar algo novo? Pense primeiro no gênero que deseja (ação, RPG, luta, etc.). Assim, sua decisão fica mais consciente e alinhada ao que realmente busca.

  3. Não termine todos os jogos

    Se o jogo não está divertido, pare! Jogar não é obrigação. Lembre-se: o objetivo é se divertir, não proteger a honra da sua família.

Conclusão

Jogar videogame não vai te deixar doente, mas o excesso pode sim prejudicar sua saúde mental. Muitas horas jogando, muitas escolhas e muitas tarefas podem drenar sua energia e gerar ansiedade ou até depressão.

Concentre-se no essencial: diversão.

Se não estiver divertido, não tem problema parar e fazer outra coisa.

Recupere o prazer de jogar e você vai perceber que, no fim das contas, menos é mais.